sábado, 29 de agosto de 2009

Leopoldo, ops, Leopardo das Neves








Com quase seis anos de idade, meu Mac (na foto com a Malu) acaba de ter a obsolescência decretada pela Apple. Não só meu eMac G4, mas todos os Macs com CPU PowerPC. Na sexta-feira (28), a Apple lançou o Mac OS X 10.6, codinome Snow Leopard, o primeiro sistema operativo do Macintosh que roda exclusivamente em chips Intel.

É o fim de uma transição que começou há apenas quatro anos, a quarta da plataforma amigável da Apple – a segunda de hardware. Quando foi lançado, em 1984, o Mac, primeiro computador comercialmente viável com interface gráfica, era baseado no processador Motorola 68000, substituído por outros da linhagem 68k – 68020, 030 e 040 (este último tambem na versão 68LC040, sem a unidade de ponto flutuante, a FPU, onde LC pode significar tanto “low cost” como “less coprocessor”). A primeira e mais traumática transição ocorreu em 1991, do System 6 para o System 7. Programas deixaram de rodar, máquinas se tornaram obsoletas do dia para a noite… Mas o Mac ampliou sua dianteira sobre os PCs Windows. Endereçamento de 32 bits (que faziam a máquina reconhecer mais de 8 MB de RAM), menu Apple customizável (feature que seria perdida no OS X, mas resgatada graças a aplicativos de terceiros) e novos recursos de multimídia (QuickTime) foram algumas das vantagens do upgrade.

A segunda transição foi de hardware. Em 1994, a Apple lançou o Power Macintosh 6100, primeiro Mac movido a um processador PowerPC, produzido pela IBM e Motorola. A aliança das três empresas era a promessa de uma nova plataforma aberta, baseada na arquitetura Risc (Reduced Instructions Set Computing), que permitia a execução de um número maior de instruções por ciclo de clock que a arquitetura Cisc (Complex Instructions Set Computing), dos chips Intel 80x86 e Motorola 68k. O último Mac com CPU 68k, o Performa 630CD (equipado com chip 68LC040), saiu de linha em 1996, mas só em 1998 foi lançado o Mac OS 8.5, primeira versão do software de sistema a exigir um processador PowerPC. Até então, o sistema usava os chamados “fat binaries”, que rodavam tanto em PowerPC como em 68k. E parte era nativa para 68k e rodava em PowerPC em modo emulado.

Com o PowerPC, a Apple, pela primeira vez, promoveu uma política de clones, licenciando o sistema para empresas que produzissem computadores Mac-compatíveis. Não deu certo: os clones de Macs não conseguiram tirar mercado dos PCs. Pelo contrário, só roubaram uma fatia da própria Apple, que vivia uma situação financeira crítica, amargando uma sequência aparentemente interminável de prejuízos. Enquanto isso, o projeto Copland, que prometia um OS moderno para o Mac, com memória protegida e multitarefa preemptiva, só dava sinais de atraso. Para resolver o impasse, a Apple comprou a NeXT, empresa de seu cofundador, Steve Jobs, que retornou à maçã 12 anos depois de ter sido dela expulso. Steve chegou como um consultor de luxo e, pouco tempo depois, assumiu o cargo de CEO da empresa – no início, interino.

A NeXT tinha um sistema operativo modular, o OpenStep (antigo NextStep), baseado em Unix, que serviu de base para o desenvolvimento do Mac OS X. Enquanto isso, Steve tratou de tomar outras providências: encerrou a política de clones, acabou com a profusão de modelos (racionalizando a linha de produtos) e eliminou algumas unidades de negócios (incluindo a plataforma Newton, primeiro PDA ou palmtop da história). Enquanto isso, a empresa trabalhou paralelamente em dois sistemas: na atualização do Mac OS clássico (antigo System), que chegou à versão 9.2.2, e no desenvolvimento do OS X.

Veio a terceira transição. Em 2001, chega ao mercado o Mac OS X 10.0, codinome Cheetah. Inicialmente lento e cheio de bugs, o novo sistema do Mac foi sendo aperfeiçoado a cada versão, trazendo mais estabilidade, robustez, velocidade e eficiência. Algumas funcionalidades foram introduzidas e outras do sistema clássico foram perdidas, mas podiam ser resgatadas com o auxílio de programas de terceiros (inclusive sharewares e freewares). Em 2003, a Apple deixou de produzir Macs compatíveis com o sistema clássico. Os programas antigos ainda podiam rodar em um emulador chamado Classic Environment (Ambiente Classic).

Em junho de 2005, a Apple anuncia sua transição para os processadores Intel. A decisão surpreendeu o mercado, já que a superioridade da tecnologia Risc era tida como um dos trunfos do Mac. Mas Steve Jobs estava irritado com o atraso da IBM e da Freescale (subsidiária da Motorola) no desenvolvimento de chips PowerPC. E a Intel já havia incorporado muito da tecnologia Risc em suas CPUs. Secretamente, desde a primeira versão do Mac OS X, a Apple vinha desenvolvendo o sistema em versão recompilada para o código x86. O primeiro Mac baseado em Intel chegou ao mercado em 2006. Nos Macs Intel, deixou de ser oferecida a camada de compatibilidade com o Mac OS clássico, o Ambiente Classic – que também sumiu nos Macs PowerPC a partir do Mac OS X 10.5, codinome Leopard.

Essa transição, de certa forma, acabou com a diferença de hardware que havia entre o Mac e os PCs IBM-compatíveis. Os Macs Intel são capazes de rodar o Windows nativamente, ao lado do Mac OS X, enquanto alguns PCs, com poucas adaptações, podem rodar o sistema da maçã (embora a licença de software da Apple não autorize isso).

Eis que no último dia 28 a Apple anuncia seu novo sistema operativo, o Snow Leopard. É a primeira versão do Mac OS X incompatível com os chips PowerPC, inclusive os G5. Computadores comprados há três anos estão condenados a se tornarem obsoletos. Muitos softwares novos já não rodam em Macs PowerPC. Logo, logo será impossível aceder a muitos sites e funcionalidades da internet sem um Mac Intel. É a Apple se rendendo à crueldade do curto ciclo de vida dos PCs.