segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Andando para trás


No fim dos anos 70 e começo dos 80, a indústria nacional oferecia uma ampla gama de equipamentos modulares de som: pré-amplificadores, amplificadores de potência – ou os dois módulos juntos formando os amplificadores integrados –, sintonizadores (tuners) – que por sua vez poderiam ser unidos aos amplificadores, resultando nos receptores (receivers) –, equalizadores gráficos, reverberadores, mixers, tape-decks, toca-discos e, a partir de 1983, CD players. Eram equipamentos geralmente confiáveis, de marcas como Gradiente, Polyvox, Quasar, Sony, Technics, Cygnus, Philips e CCE, que ofereciam boa qualidade de som. Muitos deles eram produzidos sob licença de fabricantes como JVC e Kenwood. O consumidor poderia montar seu conjunto modular de áudio com equipamentos de diversas procedências, devendo apenas cuidar para verificar se os níveis e a impedância das saídas e respectivas entradas eram compatíveis.

No início dos anos 80, os equipamentos “populares” começavam a se sofisticar. Surgiram os radiogravadores estéreo (1982) e os microsystems (1983). Alguns desses últimos, como o MS-9, da CCE, traziam recursos que até então só se viam nos equipamentos de som modular, como o tape-deck com seletor de fitas (normal, cromo/ferro-cromo e metal) e sistema de redução de ruído Dolby B. Ainda se enquadravam no conceito modular, pois suas partes – receiver e tape-deck – podiam ser desacopladas e estavam conectadas entre si por cabos RCA.

Com o passar do tempo, no entanto, esses microsystems foram se integrando cada vez mais e perdendo recursos. Na prática, ocuparam o espaço dos antigos três-em-um. Os equipamentos modulares, por sua vez, acabaram perdendo espaço para os home-theatres (ou home-theaters, na grafia americana). Estes últimos usam tecnologias com múltiplos canais de áudio, em vez dos dois canais do estéreo (esquerdo e direito) e um subwoofer mono. Parece que a explicação para o subwoofer mono é que o ouvido humano é absolutamente incapaz de perceber a direção de sons mais graves, por isso não compensaria ter um subwoofer para cada canal. Não sei se é verdade, mas, se for, faz sentido.

Poucas lojas ainda comercializam equipamentos de som modular – hoje, importados, já que a indústria nacional regrediu. Os gravadores de CD de áudio, por exemplo, ficaram pouco tempo no mercado brasileiro. Toca-discos de vinil tornaram-se equipamentos caríssimos, usados apenas por DJs profissionais. Quem quer comprar som modular hoje é obrigado a recorrer às lojas de equipamentos usados.

Há também um vácuo de tecnologias. As fitas cassete caíram em desuso, mas o gravador de CD de áudio não pegou, nem o minidisc. Quer gravar um programa da Lúmen, da Mundo Livre ou da 91 Rock? Só se você ligar a saída do seu equipamento de som na entrada de áudio do computador. Ou gravar o streaming das emissoras. Ou ainda comprar um microsystem que permita gravar de FM em arquivos MP3 (sim, isso já existe).

Situação semelhante ocorre com as tecnologias de gravação de vídeo. O VHS morreu e deixou um vácuo: o SuperVHS não pegou e os gravadores de DVD de mesa (não confundir com os SuperDrives, que gravam CDs e DVDs nos computadores) eram muito caros. Agora que os gravadores de DVD estão ficando com preços acessíveis, chega uma tecnologia nova, o BluRay Disc. Só que, de novo, os fabricantes privilegiam os aparelhos “burros”, que só leem os discos, sem permitir que o consumidor faça o principal: gravar os programas.

Talvez aqui, novamente, o computador seja a solução. Além de um Mac (ou PC, para quem se contenta com a mediocridade do Windows só porque “quase todo mundo usa”) no escritório, o consumidor deve comprar outro para usar como central de mídia, gravando seus programas de TV e de rádio preferidos.