sábado, 24 de outubro de 2009

Direto do frio para o coração do Rio

Um dos programas mais influentes do rádio curitibano acaba de conquistar uma metrópole nacional. Desde ontem, 23 de outubro, a Rádio Roquette Pinto (94,1 MHz), emissora pública mantida pelo governo do Rio, passou a transmitir o RádioCaos todas as sextas, das 22h à meia-noite (na verdade termina mais cedo, por volta das 23h45, porque não há comerciais, apenas chamadas de outros programas).

Para quem não mora em Curitiba – nem no Rio –, o programa pode ser ouvido pela web nos sites da Roquette Pinto ou da Rádio 91 Rock (91,3 MHz), que exibe o programa aos domingos, também das 22h à meia-noite. Alguns programas antigos estão disponíveis no site do próprio RádioCaos, que anda precisando de atualização.

Produzido por Samuel Lago, Rodrigo Barros, Mola Jones e Felipe Hirsch, o programa é anárquico: mistura música boa e música esquisita de todas as épocas, pontuada por poesias, jingles e “reclames retrôs”, trilhas de seriados antigos e muito mais. Você pode ouvir no mesmo módulo Noel Rosa e Frank Zappa, por exemplo.

A longevidade do RádioCaos é prova de que o rádio curitibano vive um bom momento, apesar das contenções de gastos. Atualmente, há quatro emissoras transmitindo música de qualidade em Curitiba: a Lúmen FM (99,5 MHz), emissora educativa da PUC Paraná; a Rádio Mundo Livre (93,9 MHz), do grupo RPC; a Rádio 91 Rock, do Grupo J. Malucelli; e a Paraná Educativa FM, do governo do Paraná.

Falei em contenção de gastos porque em muitos horários a programação dessas rádios é gravada, eliminando a necessidade da presença do locutor, que nem sequer precisa ser substituído por operador, pois hoje, com os softwares de automação, o computador opera a rádio sozinho.

Na linha eclética do RádioCaos, surgiu recentemente na Mundo Livre o Rádio Cambalacho, apresentado aos sábados, às 18h. Vale a pena ouvir. Nessa linha, o Omar Godoy, da Folha de Londrina e dos programas Trajeto Lúmen (Lúmen, segunda a sexta, 18h) e Alma Brasileira (Lúmen, domingo, 12h), produziu e apresentou o Revertério, nos primórdios da rádio da PUC.

Também não faltam programas de indie no rádio curitibano. O rock alternativo está presente no Último Volume (Lúmen, domingo, às 23h), no The Tops (Mundo Livre, terça-feira, 23h) e no 91 Extra Rock (91 Rock, sexta-feira, 23h). No The Tops, além da excelente seleção musical dos produtores e apresentadores Malu Mazza e Rubão, a boa surpresa é a performance da repórter da RPC TV (afiliada da Globo no Paraná) como locutora. A Malu manda muito bem na locução, reforçando o time de vozes femininas da Mundo Livre, que conta com dois ícones do rádio curitibano, a Margot e a Carol.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Andando para trás


No fim dos anos 70 e começo dos 80, a indústria nacional oferecia uma ampla gama de equipamentos modulares de som: pré-amplificadores, amplificadores de potência – ou os dois módulos juntos formando os amplificadores integrados –, sintonizadores (tuners) – que por sua vez poderiam ser unidos aos amplificadores, resultando nos receptores (receivers) –, equalizadores gráficos, reverberadores, mixers, tape-decks, toca-discos e, a partir de 1983, CD players. Eram equipamentos geralmente confiáveis, de marcas como Gradiente, Polyvox, Quasar, Sony, Technics, Cygnus, Philips e CCE, que ofereciam boa qualidade de som. Muitos deles eram produzidos sob licença de fabricantes como JVC e Kenwood. O consumidor poderia montar seu conjunto modular de áudio com equipamentos de diversas procedências, devendo apenas cuidar para verificar se os níveis e a impedância das saídas e respectivas entradas eram compatíveis.

No início dos anos 80, os equipamentos “populares” começavam a se sofisticar. Surgiram os radiogravadores estéreo (1982) e os microsystems (1983). Alguns desses últimos, como o MS-9, da CCE, traziam recursos que até então só se viam nos equipamentos de som modular, como o tape-deck com seletor de fitas (normal, cromo/ferro-cromo e metal) e sistema de redução de ruído Dolby B. Ainda se enquadravam no conceito modular, pois suas partes – receiver e tape-deck – podiam ser desacopladas e estavam conectadas entre si por cabos RCA.

Com o passar do tempo, no entanto, esses microsystems foram se integrando cada vez mais e perdendo recursos. Na prática, ocuparam o espaço dos antigos três-em-um. Os equipamentos modulares, por sua vez, acabaram perdendo espaço para os home-theatres (ou home-theaters, na grafia americana). Estes últimos usam tecnologias com múltiplos canais de áudio, em vez dos dois canais do estéreo (esquerdo e direito) e um subwoofer mono. Parece que a explicação para o subwoofer mono é que o ouvido humano é absolutamente incapaz de perceber a direção de sons mais graves, por isso não compensaria ter um subwoofer para cada canal. Não sei se é verdade, mas, se for, faz sentido.

Poucas lojas ainda comercializam equipamentos de som modular – hoje, importados, já que a indústria nacional regrediu. Os gravadores de CD de áudio, por exemplo, ficaram pouco tempo no mercado brasileiro. Toca-discos de vinil tornaram-se equipamentos caríssimos, usados apenas por DJs profissionais. Quem quer comprar som modular hoje é obrigado a recorrer às lojas de equipamentos usados.

Há também um vácuo de tecnologias. As fitas cassete caíram em desuso, mas o gravador de CD de áudio não pegou, nem o minidisc. Quer gravar um programa da Lúmen, da Mundo Livre ou da 91 Rock? Só se você ligar a saída do seu equipamento de som na entrada de áudio do computador. Ou gravar o streaming das emissoras. Ou ainda comprar um microsystem que permita gravar de FM em arquivos MP3 (sim, isso já existe).

Situação semelhante ocorre com as tecnologias de gravação de vídeo. O VHS morreu e deixou um vácuo: o SuperVHS não pegou e os gravadores de DVD de mesa (não confundir com os SuperDrives, que gravam CDs e DVDs nos computadores) eram muito caros. Agora que os gravadores de DVD estão ficando com preços acessíveis, chega uma tecnologia nova, o BluRay Disc. Só que, de novo, os fabricantes privilegiam os aparelhos “burros”, que só leem os discos, sem permitir que o consumidor faça o principal: gravar os programas.

Talvez aqui, novamente, o computador seja a solução. Além de um Mac (ou PC, para quem se contenta com a mediocridade do Windows só porque “quase todo mundo usa”) no escritório, o consumidor deve comprar outro para usar como central de mídia, gravando seus programas de TV e de rádio preferidos.

sábado, 29 de agosto de 2009

Leopoldo, ops, Leopardo das Neves








Com quase seis anos de idade, meu Mac (na foto com a Malu) acaba de ter a obsolescência decretada pela Apple. Não só meu eMac G4, mas todos os Macs com CPU PowerPC. Na sexta-feira (28), a Apple lançou o Mac OS X 10.6, codinome Snow Leopard, o primeiro sistema operativo do Macintosh que roda exclusivamente em chips Intel.

É o fim de uma transição que começou há apenas quatro anos, a quarta da plataforma amigável da Apple – a segunda de hardware. Quando foi lançado, em 1984, o Mac, primeiro computador comercialmente viável com interface gráfica, era baseado no processador Motorola 68000, substituído por outros da linhagem 68k – 68020, 030 e 040 (este último tambem na versão 68LC040, sem a unidade de ponto flutuante, a FPU, onde LC pode significar tanto “low cost” como “less coprocessor”). A primeira e mais traumática transição ocorreu em 1991, do System 6 para o System 7. Programas deixaram de rodar, máquinas se tornaram obsoletas do dia para a noite… Mas o Mac ampliou sua dianteira sobre os PCs Windows. Endereçamento de 32 bits (que faziam a máquina reconhecer mais de 8 MB de RAM), menu Apple customizável (feature que seria perdida no OS X, mas resgatada graças a aplicativos de terceiros) e novos recursos de multimídia (QuickTime) foram algumas das vantagens do upgrade.

A segunda transição foi de hardware. Em 1994, a Apple lançou o Power Macintosh 6100, primeiro Mac movido a um processador PowerPC, produzido pela IBM e Motorola. A aliança das três empresas era a promessa de uma nova plataforma aberta, baseada na arquitetura Risc (Reduced Instructions Set Computing), que permitia a execução de um número maior de instruções por ciclo de clock que a arquitetura Cisc (Complex Instructions Set Computing), dos chips Intel 80x86 e Motorola 68k. O último Mac com CPU 68k, o Performa 630CD (equipado com chip 68LC040), saiu de linha em 1996, mas só em 1998 foi lançado o Mac OS 8.5, primeira versão do software de sistema a exigir um processador PowerPC. Até então, o sistema usava os chamados “fat binaries”, que rodavam tanto em PowerPC como em 68k. E parte era nativa para 68k e rodava em PowerPC em modo emulado.

Com o PowerPC, a Apple, pela primeira vez, promoveu uma política de clones, licenciando o sistema para empresas que produzissem computadores Mac-compatíveis. Não deu certo: os clones de Macs não conseguiram tirar mercado dos PCs. Pelo contrário, só roubaram uma fatia da própria Apple, que vivia uma situação financeira crítica, amargando uma sequência aparentemente interminável de prejuízos. Enquanto isso, o projeto Copland, que prometia um OS moderno para o Mac, com memória protegida e multitarefa preemptiva, só dava sinais de atraso. Para resolver o impasse, a Apple comprou a NeXT, empresa de seu cofundador, Steve Jobs, que retornou à maçã 12 anos depois de ter sido dela expulso. Steve chegou como um consultor de luxo e, pouco tempo depois, assumiu o cargo de CEO da empresa – no início, interino.

A NeXT tinha um sistema operativo modular, o OpenStep (antigo NextStep), baseado em Unix, que serviu de base para o desenvolvimento do Mac OS X. Enquanto isso, Steve tratou de tomar outras providências: encerrou a política de clones, acabou com a profusão de modelos (racionalizando a linha de produtos) e eliminou algumas unidades de negócios (incluindo a plataforma Newton, primeiro PDA ou palmtop da história). Enquanto isso, a empresa trabalhou paralelamente em dois sistemas: na atualização do Mac OS clássico (antigo System), que chegou à versão 9.2.2, e no desenvolvimento do OS X.

Veio a terceira transição. Em 2001, chega ao mercado o Mac OS X 10.0, codinome Cheetah. Inicialmente lento e cheio de bugs, o novo sistema do Mac foi sendo aperfeiçoado a cada versão, trazendo mais estabilidade, robustez, velocidade e eficiência. Algumas funcionalidades foram introduzidas e outras do sistema clássico foram perdidas, mas podiam ser resgatadas com o auxílio de programas de terceiros (inclusive sharewares e freewares). Em 2003, a Apple deixou de produzir Macs compatíveis com o sistema clássico. Os programas antigos ainda podiam rodar em um emulador chamado Classic Environment (Ambiente Classic).

Em junho de 2005, a Apple anuncia sua transição para os processadores Intel. A decisão surpreendeu o mercado, já que a superioridade da tecnologia Risc era tida como um dos trunfos do Mac. Mas Steve Jobs estava irritado com o atraso da IBM e da Freescale (subsidiária da Motorola) no desenvolvimento de chips PowerPC. E a Intel já havia incorporado muito da tecnologia Risc em suas CPUs. Secretamente, desde a primeira versão do Mac OS X, a Apple vinha desenvolvendo o sistema em versão recompilada para o código x86. O primeiro Mac baseado em Intel chegou ao mercado em 2006. Nos Macs Intel, deixou de ser oferecida a camada de compatibilidade com o Mac OS clássico, o Ambiente Classic – que também sumiu nos Macs PowerPC a partir do Mac OS X 10.5, codinome Leopard.

Essa transição, de certa forma, acabou com a diferença de hardware que havia entre o Mac e os PCs IBM-compatíveis. Os Macs Intel são capazes de rodar o Windows nativamente, ao lado do Mac OS X, enquanto alguns PCs, com poucas adaptações, podem rodar o sistema da maçã (embora a licença de software da Apple não autorize isso).

Eis que no último dia 28 a Apple anuncia seu novo sistema operativo, o Snow Leopard. É a primeira versão do Mac OS X incompatível com os chips PowerPC, inclusive os G5. Computadores comprados há três anos estão condenados a se tornarem obsoletos. Muitos softwares novos já não rodam em Macs PowerPC. Logo, logo será impossível aceder a muitos sites e funcionalidades da internet sem um Mac Intel. É a Apple se rendendo à crueldade do curto ciclo de vida dos PCs.

sábado, 13 de junho de 2009

A farsa dos motores flex-fuel

Os chamados motores flex-fuel, que funcionam com gasolina, álcool ou uma mistura dos dois em qualquer proporção, viraram febre no país. A maioria dos carros novos à venda usa essa tecnologia. O problema é que, embora esse tipo de propulsor funcione com etanol, ele tem a eficiência comprometida para manter a compatibilidade com a gasolina.

Para entender melhor: se por um lado a queima do álcool gera menos energia que a da gasolina, o que gera maior consumo, por outro lado o combustível renovável apresenta maior resistência à detonação (octanagem), suportando taxas de compressão maiores que a do combustível fóssil. Um motor puramente a álcool suporta facilmente taxas de compressão maiores, tipo 14:1, enquanto o propulsor a gasolina trabalha com taxas entre 10,5:1 e 12,6:1.

Para que o flex-fuel possa também funcionar com gasolina, a taxa de compressão tem que ser limitada. O resultado é que a queima do álcool no motor flex-fuel acaba sendo menos eficiente. O motor funciona com engasgos, consumindo mais combustível e desenvolvendo menor potência do que faria se fosse somente a álcool. O ganho de potência do álcool em relação à gasolina até acontece, por causa das características da vaporização do combustível, mas se a taxa de compressão fosse otimizada para o álcool essa vantagem seria bem maior. Como disse um dos criadores do Proálcool, em entrevista à Carta Capital: o carro flex é um bom carro a gasolina e um carro a álcool apenas regular.

A solução seria um motor com taxa de compressão variável, tecnologia que ainda não está disponível no país. Ou então mexer indiretamente na taxa de compressão, usando um turbo, cuja pressão poderia ser ajustada de acordo com o combustível utilizado.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

TV a lenha










Uma das coisas mais legais do You Tube é a possibilidade de rever imagens que marcaram a nossa infância. Basta fazer algumas buscas e somos imediatamente transportados até um passado não muito distante. A gente encontra preciosidades que, até pouco tempo atrás, eram inimagináveis de serem vistas na internet: chamadas, vinhetas, aberturas e cenas de programas antigos. Está tudo lá: A Patota, Shazam, Xerife & Cia., O Semideus, O Casarão, Estúpido Cupido, Espelho Mágico, O Grito, Bandeira 2, O Bofe, O Rebu, Pecado Capital, Cuca Legal, Duas Vidas… É possível encontrar raridades, como breaks comerciais inteiros, vinhetas interprogramas, encerramentos de programas com locuções locais (os chamados “rabichos”, com o prefixo da emissora: “ZYB-511…”), certificados da Censura Federal e muito mais.

Dá para relembrar os recursos técnicos da época e a mudança na programação visual, principalmente na virada de 1975 para 1976, quando a dupla austríaca Hans Donner e Rudi Böhm assumiu o design da Globo. Naquela época, se faltavam os recursos de computação gráfica de hoje, sobrava criatividade. Dentro das limitações de três décadas atrás, eles produziram aberturas geniais, como a da primeira versão de Anjo Mau (1976) e de À Sombra dos Laranjais (1977), e vinhetas interprogramas memoráveis, como Bolhas (erroneamente identificada como sendo de 1977) e Oceano, que ficaram no ar entre 1978 e 1980. Antes disso, ainda na era Cyro Del Nero (antecessor de Donner), destaque para as aberturas de Carinhoso (1973), com uma introdução animada por um computador analógico chamado Scanimate, e a de Fogo sobre Terra, com movimentos de câmera interessantes e uma animação bem feita dos créditos.

E tem um cara que, além de ter postado alguns desses vídeos, vende DVDs com tudo isso e muito mais. Ainda não comprei, não sei se a qualidade é boa. Quem quiser, pode pedir o catálogo dele pelo e-mail dvddatv@yahoo.com.br.

sábado, 18 de abril de 2009

Eu quero é mocotó


Uma das minhas sobremesas favoritas, cujo sabor lembra minha infância, é a geleia de mocotó sabor natural. É uma espécie de gelatina natural, feita a partir do mocotó bovino. A marca mais tradicional do mercado era a Colombo, que teve origem na tradicional confeitaria Colombo, do Rio. A marca concorrente também era carioca: era a Inbasa, que já pertenceu ao Roberto Marinho. Nos anos 90, as duas marcas foram compradas pela Arisco, que por sua vez foi comprada pela Unilever. Agora, no século 21, a Unilever resolveu acabar com os antigos nomes e vender sua geleia de mocotó com a bandeira Arisco mesmo.

Inexplicavelmente, o produto acabou desaparecendo das prateleiras da maioria dos supermercados de Curitiba. É preciso procurar muito para achar. Já encontrei algumas vezes no WalMart da João Gualberto, mas é longe da minha casa. Nos supermercados mais próximos, o Côndor da Nilo Peçanha e o Mercadorama da Hugo Simas, é impossível achar. Já liguei para o 0800 do Côndor, mas a pessoa que atendeu limitou-se a dizer que o produto “não está no cadastro” deles nem no “acordo comercial” com o fabricante, sem solucionar o problema. É muita cara-de-pau. Se eles vendem outros produtos da Arisco, qual é a razão para eles sonegarem o mocotó?

Nesse caso, o que o consumidor pode fazer? Será que o Procon resolve? Devo procurar um advogado? É inadmissível que uma rede de supermercados pratique esse tipo de embargo contra os consumidores, impedindo-os de adquirir um produto tão tradicional e indispensável à vida das pessoas. Além disso, dizer no slogan e no jingle que “está de mãos dadas” com o consumidor, enquanto na prática está impedindo que ele tenha acesso a um produto, é, no mínimo, propaganda enganosa.

Adicto por Ovomaltine




Descobri o Ovomaltine meio que por acaso. Em 1981, eu tinha 14 anos e não gostava dos principais achocolatados da época – Toddy, da Quaker, e Nescau, da Nestlé. Comecei a experimentar outras coisas, tipo o Novomilke, da Olvebra, até que um dia deparei com o Ovomaltine na prateleira de um supermercado. Eram quatro os sabores: tipo suíço, tipo doce, sabor malte e sabor chocolate. Experimentei todos. Durante algum tempo gostei do tipo doce, mas depois comecei a consumir com mais frequência o sabor chocolate, que acabou se tornando meu preferido.

Na época, o Ovomaltine vinha em latas que precisavam ser abertas com abridor, com uma tampa plástica flexível por cima (mais ou menos como a do Sustagem), para mantê-lo fechado depois de aberto. Fechado depois de aberto é ótimo, mas vocês entenderam o que eu quis dizer, né? Mais tarde, ele passou a vir com uma tampa metálica removível e um lacre de alumínio flexível, como as latas de Leite Ninho ou Farinha Láctea. A lata em si depois passou a ser de papelão. Inicialmente havia dois tamanhos, mas depois o maior foi limado. Finalmente, as latas foram substituídas pelos atuais sachês, supostamente para baratear o produto. Se houve alguma redução no preço, não foi tão significativa, pois o Ovomaltine continuou sendo um dos achocolatados mais caros do mercado. Nos primeiros tempos dos sachês, nos anos 90, houve até uma promoção em parceria com a Tupperware. Até hoje guardo o Ovomaltine na embalagem Tupperware da promoção.

Os sabores também passaram por mudanças. O primeiro a ser limado foi o tipo doce. Depois foi a vez do sabor malte ser descontinuado. Aí o tipo suíço foi renomeado para sabor suíço. Recentemente o sabor suíço saiu de linha e entrou uma nova versão, o chocolate fino, sem os tradicionais flocos crocantes. Gostei, porque dissolve mais facilmente no leite. Mas existe uma preparação de Ovomaltine, que conheço desde os anos 90, que não dispensa a crocância: o milkshake de Ovomaltine do Bob’s.

Inicialmente produzido pela Wander, o Ovomaltine passou a ser fabricado e distribuído por várias outras empresas, entre elas Moinhos Santista, Sandoz, Novartis e Liotécnica. Há cerca de oito anos, a fábrica de Resende (RJ), na Rodovia Presidente Dutra (BR-116, trecho Rio-São Paulo) foi desativada, em razão de contaminação no solo por vazamento na vizinha Basf. Por coincidência, a nova fábrica fica na Rodovia Régis Bittencourt (São Paulo-Curtitiba), que também é um trecho da BR-116, no município do Embu, na região metropolitana de São Paulo.

Agora pretendo cuidar mais da saúde, por isso estou reduzindo até o consumo de Ovomaltine. Na real, o que me motivou a essa mudança de hábitos foram as recomendações de uma pediatra à minha filha, Malu, que está com sobrepeso – e, conforme descobrimos depois, está com colesterol elevado. O mais difícil foi trocar o leite integral pelo desnatado, que tem um gosto horrível, quase intragável. Espero que, com a evolução da tecnologia de alimentos, as indústrias de laticínios consigam desenvolver um leite desnatado mais palatável.

domingo, 5 de abril de 2009

Com soda… ou na caninha


Tomo Underberg com Coca “since I know myself as a person”. Não. Menos, Ari, menos! Na real, meu primeiro contato com o amargo fernet de origem germânica remonta aos idos de 1984, mais precisamente em dezembro, quando eu, aos 17 anos, fazia o superintensivo no Dom Bosco. Depois de tomar um porretaço de vinho doce de garrafão na casa de uns amigos, acabei chamando o Hugo, o Juca e o Raul no Largo da Ordem. Aí meus amigos me convenceram a entrar num bar, onde o Ivo do Blindagem estava tocando, e tomar algo para curar o porrete. Foi lá que me ofereceram um negócio chamado “água-de-valeta” (Underberg com água tônica). Achei o sabor um tanto exótico, mas muito amargo para o meu gosto.

Em meados do ano seguinte, no antigo Museum Chopp, bar que funcionava no Museu de Arte de Joinville, encontrei um primo de terceiro grau, o publicitário Dorval Campos Neto, tomando Underberg com soda. Experimentei e gostei da mistura, apesar de ter um certo gosto de remédio. Acabei adotando como bebida oficial por algumas semanas. Porém, logo depois, alguém me sugeriu que experimentasse com Coca, como fazem os uruguaios. Experimentei e virei fã.

Recentemente, fiquei sabendo que o Underberg foi pivô de uma disputa judicial entre os detentores da marca na Alemanha e no Brasil. A história começa em 1846, quando Hubert Underberg começa a produzir o Underberg na Alemanha. Em 1884, o produto começa a ser exportado para o Brasil. Em 1932, Paul Underberg, neto do fundador, muda-se para o Brasil e começa a produzir o Underberg no país. Durante a segunda guerra mundial, com a impossibilidade de importar as ervas aromáticas da fórmula original, Paul adapta a receita, passando a usar ervas e raízes brasileiras. Enquanto isso, na Alemanha, o Underberg original passa a ser distribuído em garrafinhas de meia dose (20 ml). Passadas algumas décadas, o controle da Underberg-Albrecht do Brasil já não pertencia mais à família Underberg. A empresa alemã decide então mover uma ação na Justiça contra o uso da marca pela fábrica brasileira. A disputa acabou há uns dois ou três anos, quando a Underberg alemã comprou a Underberg do Brasil. Agora, o fernet nacional passa a se chamar “Brasilberg – da casa Underberg do Brasil”. O original alemão, por sua vez, passou a ser importado, nas famigeradas e antieconômicas garrafinhas de meia dose.

Bom, essa é a parte oficial da história. Mas o Dante Mendonça conta em sua coluna o lado secreto do Underberg. Para saber mais, leia a coluna do Dante e visite os sites oficiais do Brasilberg e do Underberg.

PS – Eu gostaria de postar aqui o comercial do Underberg com o Mílton Morais, em que ele dizia o bordão: “Com soda… ou na caninha”. Mas não achei o vídeo no YouTube.